Em janeiro de 2017 algo muito interessante aconteceu em Juiz de Fora; uma empresa de fora da cidade solicitou uma reunião com o prefeito e a secretaria de economia e desenvolvimento, pois estava interessada em mover sua sede para a cidade.
Até ai, tudo ok. Porém a empresa em questão era a Tata Group, uma das 5 maiores empresas de tecnologia do mundo, com mais de 600 mil funcionários e unidades em mais de 100 países. O valor da empresa no mercado em março de 2018 era de nada menos que U$151.62 bilhões. No Brasil a sede da empresa estava em Campinas.
A grande oportunidade
Caso viesse para Juiz de Fora, o valor que ela arrecadaria em impostos para a prefeitura seria o segundo maior, ficando atrás apenas da CONCER. Ou seja, seria uma conquista realmente incrível para a cidade.
No dia desta primeira reunião, me ligaram da prefeitura agitados, me pedindo informações como “quantos programadores existem em Juiz de Fora”, “quantos certificados oracle mora na cidade”, “qual o nível de inglês dos desenvolvedores aqui” e por ai vai. O que aconteceu é que eles não esperam uma demanda tão grande e naquele momento da reunião realmente não tinham as informações.
Passada a reunião, com mais calma, nos reunimos com o secretário de desenvolvimento e sua equipe, na época o João de Matos (Fátima Buffet) e entendemos a demanda, vimos que precisaríamos buscar muitas informações, caso quiséssemos que a empresa viesse mesmo para a cidade.
Do meu ponto de vista, além dos impostos arrecadados, a empresa traria um novo ânimo para a cidade, colocaria Juiz de Fora em um novo patamar, atraindo também outras empresas de tecnologia para cá.
Nos dias que se seguiram, eu juntamente com o Gustavo Pinto (Handcom), Walbet Vianna (IESPE), Renan Caixeiro (eDialog), Rodrigo Schitini (Guiando telecom) e o Rômulo Veiga fomos buscar informações, fazer contatos, levantar os pontos fortes da cidade para receber este porte de empresa.
Reuniões de reconhecimento
Nas semanas seguintes por algumas vezes a equipe de prospecção veio para Juiz de Fora a fim de conhecer os players locais, os desenvolvedores, as instituições de ensino e inovação.
Apresentei então o cenário da tecnologia para eles, falei das empresas que já existem, do foco dos desenvolvedores, do perfil mais comum, das suas certificações e ambições.
As verdades, e as quase verdades
Uma reunião em específico, foi muito marcante pra mim porque me acendeu uma luz de alerta na cabeça.
Ela aconteceu no CRITT da UFJF e estavam presentes algumas das instituições da cidade, tais como Sebrae, Prefeitura, UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), IFET (Instituto Federal), Embrapa e mais duas ou três. O objetivo desta reunião era apresentar a cidade realmente como um polo de tecnologia e inovação. Na ocasião, eu estava representando a comunidade de desenvolvedores, o GDGJF (Google Developers Group de Juiz de Fora).
Em dado momento, falaram que em Juiz de Fora todas aquelas instituições eram ligadas, conectadas, que havia uma grande troca informação e conhecimento, e que esta grandes parcerias com a iniciativa privada sempre trouxeram resultados para o mercado, que aquele grupo formava um ecossistema.
Naquele momento foi difícil pra mim esconder minha reação de surpresa. Comentei com um amigo ao meu lado, que aquilo não existia, não havia integração com as empresas, era cada um por si, e ele concordou.
Porque não veio?
De acordo com a notícia da Tribuna de Minas, a TCS, por meio de sua assessoria, informou que “todas as cidades eram fortes candidatas, mas nós tivemos que escolher uma, e Londrina atendeu todos os critérios estabelecidos.” O posicionamento é que Londrina foi eleita por conta do potencial tecnológico da cidade, que, “além de caminhar para se tornar um dos principais polos de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) do Brasil, também possui características valiosas relacionadas à qualidade de vida dos seus habitantes, como transporte público eficiente, segurança, fácil locomoção e grande presença de universidades”.
Informalmente, algumas pessoas que mantiveram contato com e equipe da Tata, falaram coisas a mais, como; baixo nível de inglês nos profissionais de T.I da cidade, poucos profissionais certificados nas tecnologias com as quais trabalham e pouca integração entre os players da cidade (falta de um ecossistema de fato).
Minha opinião sobre tudo isso
Este post é afinal, nada menos que meu ponto de vista sobre os acontecimentos. Se a Tata tivesse vindo teríamos um grande balanço nas empresas de tecnologia da cidade, pois a Tata teria uma grande demanda de contratação de profissionais, o que certamente causaria instabilidade, uma vez que muitos desenvolvedores iriam migrar para a nova empresa.
Com isso, as empresas locais precisariam se movimentarem bem mais para conseguir novos colaboradores. As empresas daqui não costumam investir na comunidade de desenvolvedores, não patrocinam eventos, não investem em treinamentos para seus times e no geral apenas querem todos prontos quando precisarem.
Na área de tecnologia, se formar é só o primeiro passo. Quando uma instituição de ensino afirma ter milhares de profissionais de tecnologias aptos para trabalhar, ela considera (erroneamente) que apenas a formação é o suficiente.
Caso viessem, Juiz de Fora teria um destaque nacional como um possível polo de tecnologia. Hoje, ainda, não me parece ser.
Com a não escolha de Juiz de Fora, na minha opinião, não ficou muito bom para as instituições (Prefeitura, Sebrae, UFJF, CRITT e algumas outras) porque elas tomaram a frente nas negociações, elas se apresentaram como provedoras das soluções que a Tata precisava, e não conseguiram convencer.
O aprendizado
Pra mim, este acontecimento sugere uma mudança de cultura.
Nos desenvolvedores da cidade, que busquem aprender o inglês, se certificarem, se movimentarem independente das empresas.
Nas instituições, que tentem se integrar com as comunidades e principalmente com a iniciativa privada, que tem outro ritmo e outro ponto de vista sobre as coisas.
Para as empresas, que criem um ambiente melhor para seus colaboradores, para que num momento de migração em massa, ainda sejam atraentes para novos profissionais, ou até, boas o suficientes para não perderem tantos postos.
Este momento deu início ao assunto Ecossistema de startups, por parte das pessoas, e isso foi positivo, como conto no post acerca do Zero40.
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