Muito se tem falado sobre inovação, e muito se tem falado no Brasil. O pais é foco de atenção pois tem se mostrado “resistente” em meio a crise mundial, se destacando em alguns segmentos (principalmente commodities) e recentemente com muitos brasileiros na lista dos homens mais ricos do mundo.
Também a surpresa para alguns do altíssimo valor com que o Facebook chegou as bolsas (tal como o Google, Groupon e outras tantas empresas ligadas a tecnologia) também nos faz pensar que “inovar deve ser lucrativo”!
Mas, afinal, qual a realidade deste pais quando se fala em inovação? Falo com conhecimento de causa.
Ser inovador no Brasil é bonito
Tal como “sustentável”, se dizer “inovadora” faz das empresas brasileiras mais bonitas! E para por ai.
O pequeno não inova!
Quando eu era mais novo sempre ouvia falar que o Sebrae ajudava a montar sua primeira empresa, “investia” na inovação mostrando o “caminho das pedras” e coisas do tipo. Depois de alguns meses elaborando melhor uma boa idéia na cabeça resolvi procurar o Sebrae… voltei pra casa desiludido. O novo, inovador, criativo, não tem vez no Brasil! Para ter acesso a crédito é preciso ter receita. Ora! Logo, se você não tiver uma empresa nunca poderá ter uma! É como se para nascer você já precisasse estar vivo! Não é brincadeira isso, é a pura verdade!
Investidores não existem!
Muito se ouve falar sobre os investidores, os “angels”, que são maravilhosos, apadrinham uma boa idéia com muito dinheiro e fazem a coisa acontecer… no Brasil isso é conversa. Nos EUA existem pelo menos 100 investidores para um no Brasil. Lá a cultura do risco vem de berço, se você acena uma boa idéia todo mundo vai querer investir. Em três anos com minha empresa incubada em um “centro de tecnologia“ cheguei perto de uma oportunidade real com investidores.
Os bancos nos EUA apostam em quem tem algo a mostrar! Infelizmente aqui no Brasil, mesmo depois e muita estrada (lê-se CNPJ e tributos) os bancos não têm como lhe dar muito além de capital de giro (lê-se 3,0% ao mês).
Os bancos não sabem o que é inovação!
Vá ao Banco do Brasil, Caixa, Santander ou qualquer outro banco e diga “Eu quero inovar”! Você terá acesso as mesmíssimas linhas de crédito que o Zé das Couves (que também merecia juros um pouco menores) tem.
Dinheiro para inovação deve ter custo baixo e carência alta. Você fica uma ano, dois investindo no desenvolvimento de algo novo para só então poder trazer efetivamente isso ao mercado, ou seja, o dinheiro só volta depois de muito investimento.
Fizemos uma reunião certa vez com gerente regional do Banco do Brasil, que após nos ouvir falar sobre o que era inovação confirmou que o banco realmente não dispunha de linhas de apoio para tais tipos de projeto. Na ocasião se prontificou a levar à Brasília nossas necessidades e foi até bem solícito, porém, continuamos aguardando.
Universidades e incubadoras
É bonito dizer que incubadoras são pólos de inovação, realmente algumas são. Mas, verifique o que há na maioria, acesse os sites e veja o que existe lá dentro; são empresas um pouco mais “interessantes” do que as que existem ai no mercado. E não pense você que estas empresas não pagam aluguel e ainda ganham tudo de graça (leia os três mitos sobre incubadoras de empresas).
Incubadoras não estão preparadas para lidar com o público que inova! Com a geração Y então, nem se fala. Funcionalismo público está para a geração da tecnologia como os cavalos-marinhos estão para as corridas no jóquei. Uma estrutura engessada como uma universidade federal ou uma incubadora pública não suporta o ritmo exigido pela autêntica inovação tecnológica.
O Governo não apóia inovação tecnológica
O Prime foi um projeto excelente (nota 7,5) promovido pelo governo e incentivou novas empresas a surgirem e inovarem efetivamente! Porém, sua única realização foi em 2009. Projetos a “fundo perdido” como o Subvenção Econômica atendem apenas empresas com alto faturamento. Uma idéia na cabeça ainda não tem faturamento, muito menos de R$500.000,00 no último ano. Se o inovador precisar ter faturado R$500.000,00 com sua ideia antes de pedir apoio, é provável que nem precise tanto mais de tal apoio.
Neste ano de 2012 o MCT (Ministério da Ciência e Tecnologia) reduziu 23% do seu investimento em tecnologia e inovação. Parece até que o Brasil desistiu de ser país desenvolvido.
Conclusão
Desta forma muitas pessoas e empresas com potencial se sentem isoladas, abandonadas e acabam tendo que se tornar ótimas empresas em seu segmento antes de terem recursos ($$$) para investir em uma nova idéia.
Creio que se o pais não tratar a inovação de maneira correta estará perdendo grandes oportunidades de ter seus próprios Mark Zuckerberg, Bill Gates, Steve Jobs, Larry Page, Sergey Brin e tantos outros…