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Juiz de Fora, o que houve com a Manchester Mineira?

Juiz de Fora, era uma cidade pioneira

Conteúdo atualizado em 11 de março de 2023.

Juiz de Fora já foi chamada de Manchester Mineira, Barcelona Mineira e até Atenas de Minas devido a seu pioneirismo e destaque em vários segmentos, principalmente industrial, sendo no final do século XIX começo do século XX a cidade mais importante do estado.

“Manchester” (cidade Inglêsa) específicamente, foi um dos grandes centros mundiais que se destacou durante revolução industrial, principalmente pela atuação no mercado textil. Juiz de Fora era então de certa forma comparada com esta potencia.

Outro destaque para a cidade, é a primeira usina hidroelétrica de grande porte da América Sul (usina de Marmelos), que foi construída em Juiz de Fora e inalgurada em 1889.

Com este histórico teríamos de tudo para crescer e se destacar com a tecnologia. Mas, o que aconteceu de lá pra cá?

Inovação e experimentação

Até alguns anos atrás, grandes empresas de tecnologia e telecomunicações “experimentavam” seus novos produtos em Juiz de Fora. Desta forma, coisas “novas” eram sempre vistas na cidade e este aspecto de “inovadora” se mantinha, e aquele sentimento de “Manchester” perdurava, mesmo que de maneira meio forçada.

Comparando-se Juiz de Fora com outras cidades do Brasil, ou mesmo do estado, não se vê mais tanto destaque, talevz quase não tenha o que se destacar.

Hoje, testar um produto ou tecnologia em Juiz de Fora tem outro objetivo. O que ouvimos com frequência é “se funcionar, for aceito e crescer em Juiz de Fora, vende em qualquer lugar do mundo”. 

Pra quem vem de fora, é uma cidade difícil. As pessoas são vistas como fechadas, desconfiadas e se organizam em grupos. Um conhecido que veio do sul para empreender na cidade, diz que cada bairro parece uma cidade própria, com suas coisas, suas pessoas e seus limites, ou seja “bairrismo”.

Quem Acessa a Internet?

O que pouca gente sabe, é que pouco antes de 2000, quando começo a se falar em trazer a tecnologia ADSL (banda larga) pro Brasil, o maior provedor de internet da cidade (na naquela época internet era discada), com medo de perder o controle sobre os usuários, se organizou com outros grandes provedores do pais e fundaram uma associação. Pressionaram então pela criação de uma lei obrigando que toda conexão de banda larga no pais tivesse obrigatoriamente um provedor. Algo totalmente desnecessário para este tipo de conexão.

Essa lei onerou nossas conexões por anos. Em 2007 a Banda larga no Brasil era quase 400 vezes mais cara que em outros países. Em 2013 essa obrigatoriedade foi eliminada, mas os valores nunca chegaram a ser baixos.

Graças a um Juiz-de-forano sempre tivemos no Brasil uma das conexões mais caras do mundo.

Tecnologia faz mal pra saúde

Em meados de 2000, instituições ligadas ao tratamento do câncer abriram processos contra a instalação de novas antenas de transmissão de dados e telefonia na cidade, o que não causou muitos problemas naquele tempo, restringindo e limitando o sinal de celulares.

Alguns anos depois isso se tornou um sério entrave, e enquanto em grandes centros a conexão 3G já era uma realidade, em Juiz de Fora o sinal tanto de telefonia quanto de dados era precário.

Comparada a outras cidades no Brasil, Juiz de Fora ainda é limitada quanto a qualidade do serviço de internet. Em boa parte da cidade o que se tem é conexão de par metálico, na regiões distantes do centro principalmente.

Ações, iniciativas e esperanças

Grandes promessas que não se concretizaram ou não tiveram tanto resultados como esperado, causaram uma certa descrença neste “inovismo” Juizdeforano.

A vinda da Mercedes Bens para a cidade é um exemplo; parecia que um grande avanço aconteceria, que todos estariam empregados (e ricos) e que Juiz de Fora poderia novamente se tornar a “Manchester Mineira”. Conheci poucas pessoas que trabalharam lá. Em poucos anos a linha de produção foi reduzida, havia até rumores de fecharem a fábrica. Em fevereiro de 2014 (mês em que escrevi originalmente este conteúdo) houve mais uma onda de demissões na montadora, e os moradores da cidade “culparam” e cobravam uma ação da prefeitura.

Também naqueles anos, a prefeitura divulgou a chegada de várias empresas que dariam novamente aquele “up” na cidade, a grande promessa era a Alma Viva, que hoje sabemos que é uma empresa com alta rotatividade de pessoas, baixos salários e que com poucas chances de crescimento profissional. É mais uma empresa em busca de mão de obra barata na cidade.

Com a confirmação da copa do mundo no Brasil, Juiz de Fora foi citada como uma das possíveis cidades para receber as equipes, oferecendo hospedagem e locais para treinos. Anos se passaram, muitas empresas investiram dinheiro em projetos de ampliação, além de dar aquela injeção de animo na cidade. Mas, as obras de melhorias do estádio que deveriam ser feitas, não foram concluídas, e outros entraves legais e burocráticos deixaram a cidade cada vez mais distante de obter qualquer ganho com a copa.

Sempre em frente

O post soa pessimista, mas de fato sou um realista esperançoso. Neste conteúdo estou apenas jogando a luz sobre estes aspectos para que possamos olhar, observar, e refletir mesmo.

Será vaidade a nossa pensar que a cidade deveria ser muito melhor do que é?

Alguns dizem que existe uma cabeça de burro enterrada no parque Halfeld atrasando nosso desenvolvimento.

Devemos apenas nos considerar roça e levantar as mãos para os céus pensando que “o que vier é lucro” ou devemos buscar um papel de protagonismo nacional?

Siga a linha nos demais posts do meu dossiê para entender mais.

Referências

  1. Porque “Manchester Mineira”?
  2. Banda Larga (Wikipedia)
  3. Provedor deixa de ser obrigatório para acesso à internet
  4. Antenas de telefonia têm causado polêmica em Juiz de Fora
  5. Onda de demissões na Mercedes-Benz em Juiz de Fora
  6. Juiz de Fora está entre as cidades mineiras que pretendem sediar treinamento das seleções na Copa do Mundo
  7. Cada dia mais longe da Copa
  8. Juiz de Fora e suas 10 cabeças de burro
  9. Aeroporto de Juiz de Fora não terá voos comerciais  por tempo indeterminado

 


Dossiê do Mercado de Tecnologia de Juiz de Fora

Este conteúdo faz parte de uma coleção de posts relacionados e que representam meu ponto de vista sobre o mercado de tecnologia e sua evolução na cidade de Juiz de Fora.




Tiago Gouvêa

Full-stack Developer, fazendo códigos desde o século passado. Criador da metodologia "Aprender programação em 20 horas" e diretor da startup App Masters, voltada para o desenvolvimento de aplicativos. Apaixonado por tecnologia e viciado em café.

Respostas (1)

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  1. Dossiê do Mercado Tecnológico de Juiz de Fora Tiago Gouvêa

    […] Juiz de Fora, o que houve com a Manchester Mineira? […]